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CLOE VRIES

I. Sobre o autor

Cloe de Vries é uma mulher que gosta de viajar. Nasceu no Brasil, mas não revela a data. Já viveu na Índia, Egito e agora mora em uma pequena província na Holanda. Gosta de colecionar pesos de papéis e cartas antigas. Suas obras estão eternamente amontoadas na gaveta de sua escrivaninha. Contatos com o autor pelo e-mail cloedevries@globo.com


II. Suas Obras


Quando eu chovo

Há dias em que acordo já chovendo. Pode ser chuva apenas repentina e passageira, miúda e frágil... ou garoar um dia inteiro.

Mas há sempre o perigo à espreita... o cerne de uma tormenta quase bestial.

O primeiro momento é de absoluta cautela, intento dar-me vazão em um rio que não aconteceria mais do que transbordar e, quiçá, transformar os arredores em solo fértil. O segundo momento é o esforço porfiado em diluir-me e acabar por passar o dia em poça.

Quando empoçada, sou nostálgica - água parada que não passa - mas, às vezes, a quem se apiede e pouse em mim como uma folha dessas de outono. E, então, até tento fazer vagas para que este que se revelou piedoso possa ter um momento menos enfadonho - sou impertinente enquanto poça.

A ameaça é quando a chuva vem apenas para principiar uma horrível tempestade...

É o vento a remexer na terra e enlamear tudo, trazendo consigo aquilo que já estava deposto. Os trovões de cólera adormecida. A água que não justifica a sua natureza - não rega, não purifica - apenas inunda tudo de lodo - e faz a vista ficar embaçada e entristecida.

Sou tempestade de fel.

O perigo maior: Posso ser tormenta por semanas.

Mas a natureza que em sua erudição incomensurável transforma tudo, afasta-me o vento, aquece-me da frieza insensível e com o sol dissolve-me da apatia e me transforma em chuva miúda... até que eu mesma possa me transformar em outra coisa mais fecunda, menos devastadora... às vezes, um arco-íris.